Vida : cinema em câmera lenta
Me lembro 1991, Iraque invade Koweit ! Foram dois meses de expectativa esperando o final da Guerra.
Toda noite, na 5, tinha uma emissão que durava varias horas, praticamente a noite inteira, dedicada à Guerra do Golfe. Era uma sequencia de jornalistas, militares, consultores em geo-politica, em armamento, estratégia, exploração de petróleo, … e tudo o que possa ter uma relação próxima ou distante com uma guerra.
O apresentador, Guillaume Durand, fazia sempre a mesma pergunta : « O que o senhor acha… ? ». E sempre a mesma resposta, vaga. Hipóteses A, B, C ou D. Os entrevistados vinham, ficavam uma hora e iam embora deixando o lugar para outros que chegavam.
De vez em quando aparecia uma informaçao nova, insignificante, que era motivo suficiente para duas noites de discussao, interpretaçao, …
Todos esperávamos que aparecesse o « heroi« . Alias ele já estava la, mas não fazia o que deveria fazer : trucidar o « bandido » Sadam Husseil e salvar o Koweit e talvez a humanidade.
Estávamos acostumados com filmes no cinema ou na televisão. Uma historia em que alguém planeja meticulosamente um crime e executa o projeto com perfeiçao. Ai aparece o heroi, um investigador muito inteligente ou talvez não tao inteligente mas muito forte, poderoso, musculoso, esculachando tudo, derrubando paredes, casas e edifícios para finalmente destroçar o bandido e salvar as vitimas.
E tudo isso em apenas uma hora e meia.
A Guerra do Golfe durou quase dois meses, se não me falha a memoria. E no final da historia, Sadam Husseim não foi destroçado, voltou para casa e continuou tranquilamente a sua vida de ditador. Tivemos que esperar mais 10 anos para o desfecho da historia : ver o bandido trucidado.
Que suspense !!! Nem Hitchcock teria feito melhor.
No mundo real as coisas levam bem mais tempo que uma hora e meia.
O que se vê, depois de algum tempo, é mais ou menos a mesma coisa, mas de outra forma.
Videos que começam sempre do mesmo jeito : « Bomba, a casa caiu, fulano mentiu, deixe o seu like e compartilhe »…
Tudo fake news. A casa não cai, o conteúdo não tem interesse, e nada acontece…